Nasce o gigante alvinegro
Um grupo de meninos se reunia todas as tardes para as costumeiras peladas de bola de meia. O campo improvisado de chão duro, poeirento e enorme, se confundia com a Avenida Afonso Pena, recebendo os primeiros impulsos do progresso. Era o campo das peladas, era em última análise o berço onde nasceria para gáudio da gente mineira, para grandeza do desporto nacional, um dos maiores clubes do Brasil. O primeiro campo de pelada situava-se entre a Rua da Bahia e a Avenida Álvares Cabral. O grupo ia crescendo, garotos à procura de uma bola. Depois dela, o encontro no coreto do Parque. Eram tradicionais na jovem capital as corridas de bicicletas, aos sábados e domingos, naquele logradouro. Os garotos lá se encontravam, e numa tarde de domingo, 22 de março de 1908, surgiu a primeira idéia de fundar-se um clube. Mas o domingo era impróprio. As corridas levavam ao Parque as mocinhas da cidade. E os meninos preferiam ver as corridas, e, já naquela época, paquerar os brotinhos. A idéia ganhou campo rapidamente. Os meninos começaram o trabalho e, na quarta-feira, 25 de março de 1908, segundo o depoimento de Hugo Fracarolli e João Barbosa Sobrinho, os atletas mataram as aulas e ficaram pela tarde toda no Parque Municipal, para que, naquele dia, surgisse o maior clube de Minas, o celeiro de craques famosos, o colecionador de títulos invejáveis, o indiscutível campeão da popularidade. E o clube nasceu numa tarde plena de sol, cheia de luz, irradiando felicidade e abrindo o roteiro glorioso do querido Galo Carijó. Os fundadores presentes à reunião foram: Mário Neves, Raul Fracarolli, Margival Mendes Leal, Mário Lott, Eurico Catão, Hugo Fracarolli, Carlos Maciel, João Barbosa Sobrinho, Aleixanor Alves Pereira, Antunes Filho, Mário Toledo, José Soares Alves, Horácio Machado, Leônidas Fulgêncio, Augusto Soares, Humberto Moreira, Júlio Menezes Melo, Sinval Moreira, Benjamin Moss Filho. Não compareceram à primeira reunião, mas são incluídos entre os fundadores, Jorge Dias Pena, Francisco Monteiro e Mauro Brochado. O nome da nova entidade: Atlético Mineiro Futebol Clube. Em 1904, tinha sido fundado na jovem capital o Sport Club Futebol, que iria desaparecer em 1909, depois de sofrer três derrotas frente ao Atlético. Seguiram-se outras reuniões. O local, sempre o mesmo: a moldura bucólica do Parque Municipal. O clube nascia praticamente com a cidade. E ambos cresciam gloriosamente. O Atlético firmava-se através de um esquema de trabalho e de realizações. A cidade ganhava dimensão, crescendo vertiginosamente.
A primeira equipe
Logo após a compra de uma bola velha e imprópria para a prática do futebol, formou-se a primeira equipe do Atlético. É preciso um momento de respeito, é necessário um instante de gratidão: é permanente a saudade dos meninos de ontem, garotos vendendo saúde e amando o sol e a luz, respeitáveis velhos de hoje, que tanto deram ao Atlético, que souberam servi-lo com dignidade ímpar e engrandecê-lo com sacrifícios ingentes. Seus nomes, alguns dos quais já transpuseram os umbrais da eternidade, estão por merecer, na grandiosidade da Vila Olímpica, um panteon de glórias no qual se inscreve os nomes dos que abriram a grande senda, o grande caminho da consagração e do triunfo do Clube Atlético Mineiro. Os fundadores abriram a primeira equipe, toda ela saída dos bandeirantes do Atlético, estava assim constituída: Eurico Catão, Mauro e Leônidas; Raul Fracarolli, Mário Toledo e Hugo Fracarolli; Francisco Monteiro, Mário Lott, Margival, Horácio e Benjamin Moss.
O campo
O Atlético começou as suas atividades num terreno irregular em suas dimensões. Localizado à Rua Guajajaras, entre São Paulo e Curitiba. O campo não media mais que uns 30 metros de largura por uns 75 de comprimento. Não havia marcas laterais. A bola estava fora de jogo quando rolava pelo barranco abaixo. As metas se constituíam de dois paus colocados verticalmente. No sentido horizontal, marcando a sua altura, amarrava-se uma corda. Terminado o jogo ou o treino, o material era recolhido. Quando foi colocado pela primeira vez e não foi retirado, os amigos do alheio ou os inimigos do Atlético consumiram com as duas "metas".
O tempo vai passando
A primeira diretoria eleita teve um enorme trabalho. Coube-lhe a organização do clube, a compra do material esportivo, a luta por conseguir bolas para os jogos e os treinos, a escolha de um local próprio para construir um campo em condições da prática do futebol. Os homens que tiveram a dura responsabilidade de iniciar o grande roteiro do Alvinegro eram todos os fundadores, eram todos os atletas. Presidente: Margival Mendes Leal; Secretário: Mário Lott; Tesoureiro: Eurico Catão. Comandaram o clube de 1908 a 1911, quando foi eleita a segunda diretoria do Atlético. À luta dos pioneiros veio juntar-se uma nova equipe. Nomes respeitáveis e que muito contribuíram para o desenvolvimento do clube. Os novos diretores eleitos foram os seguintes - Presidente: Aleixanor Pereira; vice-presidente: Aníbal Machado; 1° Secretário: Jair Pinto dos Reis; 2° Secretário: Mário Lott; 1° Tesoureiro: Mário Neves; 2° Tesoureiro: Oscar Maciel.
Uma nova praça de esportes
Em 1911, com muito esforço de sua diretoria, o Atlético consegue um campo menos ruim do que o primitivo da Rua Guajajaras, na antiga Avenida Paraopeba, hoje Avenida Augusto de Lima, onde se localiza o Minascentro. Era o campo que pertenceu ao primeiro clube fundado em Belo Horizonte, o Sport Club Futebol. Estava em bom estado. O Prefeito, Dr. Olinto Meireles, cedeu a praça para que o Atlético ali realizasse os seus treinos e os seus jogos. A reforma do campo foi feita pelos próprios diretores e jogadores. Um velho mastro, encostado na Estação da Central do Brasil, foi doado ao atlético. Desgastado e corrido, recuperaram-no, e fizeram-no novo, pintaram-no com as cores do clube e, a 12 de maio de 1912, nele foi hasteada a primeira bandeira alvinegra, confeccionada pelas mãos primorosas da Senhora Alice Neves. A mulher mineira marcava a sua presença no clube. Torcedora número um do Atlético, incentivava os jovens, dava-lhes conselhos, fornecia-lhes alimentação e era inflexível quando qualquer atleta se furtava ao cumprimento do dever. Naquele campo, agora do Atlético, o Alvinegro derrotara, em 21 e 28 de março e 21 de abril de 1909, o primeiro clube organizado em Belo Horizonte, dono da praça e que, logo após os insucessos frente ao Atlético, desapareceu do cenário esportivo da cidade.
O primeiro jogo
Exatamente a 21 de março de 1909, comemorando o seu primeiro ano de fundação, o Atlético Mineiro Futebol Clube derrotava, por 3 a 0, o Sport Club Futebol. A equipe formou assim: Eurico Catão, Mauro e Leônidas, Raul Fracarolli, Mário Toledo e Hugo Fracarolli; Mário Neves, Aníbal Machado, Margival, Zeca Alves e Benjamin Moss. Os tentos foram de autoria de Aníbal Machado, Zeca Alves e Mário Neves. O primeiro tento do Atlético foi marcado pelo saudoso e grande nome de Minas: ANÍBAL MACHADO. Não se conformou com o resultado o Sport Club. Pediu revanche para o domingo seguinte, 28 de março. Nova derrota por 2 a 0. Um mês depois, voltava a campo e era fragosamente derrotado por 4 a 0. Foi o fim da primeira agremiação fundada em Belo Horizonte. O Primeiro Revés Julgaram os dirigentes e atletas que a equipe dirigida por Francisco Neto, o primeiro treinador do Atlético, estava em grande forma, uma vez que conseguira alguma vitorias sobre o Minas Gerais, o Acadêmico e o Morro Velho. Entraram em entendimentos com a reitoria do Granbery, em Juiz de Fora, e convidaram a equipe do tradicional educandário para uma partida amistosa em Belo Horizonte. O convite foi aceito e o Atlético, a 12 de maio de 1912, foi goleado pelo Granbery por 5 a 1. Não satisfeito com o resultado, o Atlético voltaria a ser derrotado pelo Granbery no Dia da Independência, em Juiz de Fora, por 3 a 0.
Surge o vingador
No dia do quarto aniversário do clube, 25 de março de 1912, houve uma assembléia geral dos associados na qual o nome do clube foi modificado. O Atlético Mineiro Futebol Clube passou a denominar-se Clube Atlético Mineiro - a alegria do povo. Em 1913, o Atlético realizou 6 partidas, das quais venceu cinco e perdeu apenas uma, para o Morro Velho, por 3 a 2. O Alvinegro tinha atravessadas à sua frente, amargurando-o, duas derrotas feias para a Granbery, 5 a 1 e 3 a 0. Um novo convite foi feito para que o Granbery voltasse a Belo Horizonte. Embalados pelas duas vitórias anteriores - uma em Belo Horizonte, 5 a 1, e outra em Juiz de Fora, 3 a 0, os granberyenses enfrentaram o Atlético, na capital, a 4 de maio de 1913. A vingança foi completa. Uma goleada espetacular de 7 a 0. A partida foi a consagração do primeiro artilheiro do Atlético, o famoso comandante de ataque - Meireles. Ele foi o autor de 5 tentos do Atlético, e os outros dois ficaram por conta de Morgan. Depois dessa partida, o Atlético só voltou a preliar com o Granbery a 6 de setembro de 1925. O resultado: 0 x 0.
O primeiro título
A Liga de Futebol de Belo Horizonte organizou em 1914 o primeiro torneio interclubes da cidade. O vencedor receberia o rico troféu "Taça Bueno Brandão", nome dado ao troféu em homenagem ao Presidente do Estado. Os jogos ofereceram os seguintes resultados: 05/07/1914 - Atlético 2 x 0 Yale 12/07/1914 - Atlético 3 x 0 América 19/07/1914 - Atlético 0 x 0 Yale 02/08/1914 - Atlético 1 x 0 América 16/08/1914 - Atlético 2 x 0 Combinado América e Yale. O Atlético foi campeão invicto do torneio. Disputou cinco jogos, não perdeu nenhum. Marcou 8 tentos, e não sofreu nenhum. Era o primeiro título conquistado. Outros viriam, bem maiores, em grande número, consagrando o maior clube de Minas Gerais.
O primeiro campeonato oficial
Fundada a Liga Mineira de Esportes, a 28 de janeiro de 1915, foi logo organizado o primeiro campeonato oficial da cidade de Belo Horizonte. Inscreveram-se cinco clubes para a sensacional disputa: Atlético, América, Yale, Higiênicos e Cristóvão Colombo. Vejam bem a trajetória do glorioso Clube Atlético Mineiro: campeão do primeiro torneio realizado em Belo Horizonte, em 1914, agora, o primeiro campeão oficial da cidade de Belo Horizonte. O Atlético, para chegar ao título de campeão, disputou 7 partidas. Ganhou 5, empatou uma e perdeu apenas uma. Marcou 20 gols e sofreu apenas 5. Os artilheiros foram os seguintes: Meireles 7, Matos 5, Paula Dias 3; Morethzon, Cuthbert, Guimarães, Lé e Rose, 1 cada um. Os primeiros campeões oficiais de Belo Horizonte, pelo Clube Atlético Mineiro, foram os seguintes: Ferreira, Morethzon, Leon, Sigaud, Lé, Testi, Paula Dias, Lott, Meireles, Matos, Rose, Cuthbert, Guimarães, Coutinho e Guido.
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