Foram dois momentos distintos na entrevista de despedida de Paulo Roberto Falcão do Inter. O ex-treinador dividiu bem as duas partes, mostrando-se emocionado por ter de deixar o seu clube de coração e magoado pelo modo como o presidente Giovanni Luigi agiu durante os três meses em que conviveram juntos.
Trajando um blazer preto e camisa social vermelha, o ex-jogador apareceu na sala de imprensa do Beira-Rio após ter se despedido do grupo de jogadores no vestiário. Antes de ser sabatinado sobre sua saída e disparar contra Luigi, Falcão fez um pronunciamento, agradecendo aos atletas, ao vice de futebol Roberto Siegmann (também demitido) e, principalmente, com o torcedor colorado, que sempre o apoiou.
Não foi possível conter as lágrimas. Diversas vezes Falcão levou a mão aos olhos, coçou a testa, mostrando-se incomodado com o momento.
Emocionado, Falcão disse em sua saída que o tamanho de sua frustração é "maior do que o Beira-Rio""Estou sendo mandado embora do clube que me criei, que faz parte da minha historia, faço parte da historia do clube, é bem mais profundo do que uma relação somente profissional. É uma relação de coração. Quando toca esse coração, ele sangra. Evidente que meu coração está sangrando", contou, externando sua insatisfação com a decisão tomada pelo presidente colorado.
A intenção era bater um recorde de permanência no clube em que brilhou com a camisa 5. O sonho esfarelou-se em 99 dias, passagem rápida, mas intensa. "O tamanho da frustração é maior do que o Beira-Rio. Pensava que seria um pouco diferente, mesmo sabendo que estava entrando contra a vontade de pessoas do clube. Não era aquela coisa de matar um leão por dia, era muito mais do que isso", confessou, relatando que internamente seu trabalho era contestado a todo momento.
Os atos de Falcão, suas escolhas, seus treinos, sua metodologia eram, na visão do treinador, analisados microscopicamente, sempre a procura de um erro, de uma brecha para contestar o trabalho.
Pensando em realizar um trabalho de longo prazo, o ex-volante se viu com pouco a fazer quando era cobrado por vitórias em cima de vitórias, mas sem os reforços prometidos tendo chegado.
A ligação entre Falcão, os colorados e o clube foi ressaltada a todo o momento. "Quero dizer que eles (torcedores) são a razão de ser de um cube. Com eles o meu trabalho foi de coração. Tentei de maneira forte levar o Inter a uma condição melhor do que vinha acontecendo. Claro seguirei sendo torcedor do Internacional. Trabalhar no Inter sempre foi um sonho", contou.
Seu futuro é como treinador. Para ressaltar suas qualidades, Falcão chegou a sugerir como pauta que se questione aos jogadores sobre suas competências.
A relação que dura quase 40 anos entre o clube e o treinador, quando Falcão começou a surgir e a conquistar os primeiros títulos pelo Inter, seguirá. "Não tenho dúvida que vou voltar a trabalhar no Internacional", afirmou em tom de desejo, o desejo do maior ídolo da história colorada. A ligação eterna entre o ex-craque e o clube não morrerá, por isso a segunda-feira foi de um 'até breve' de Falcão, pois um adeus seria impossível.
Do correspondente Valter Junior Porto Alegre (RS)
Gazeta Esportiva
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