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SEÇÃO: Outros Esportes
O critério das notas na ginástica ainda provoca dúvidas e testes.
26/12/2006 - 15:26 hs
Atrás da perfeição
 
Montreal, 1976. Os Jogos no Canadá entraram para a história olímpica quando a romena Nadia Comaneci, com apenas 14 anos, conseguiu um feito inédito, recebendo nota 10 por sua apresentação nas barras assimétricas. Não satisfeita, ela ainda obteve mais seis vezes a nota máxima e levou para casa cinco medalhas – três ouros, uma prata e um bronze. Quem vivenciou esta experiência que guarde na memória ou recorde em vídeo porque o feito de realizar uma apresentação considerada perfeita pela arbitragem voltou a ser algo virtualmente impossível.

Em dezembro de 2005, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) mudou o Código de Pontuação da modalidade, aumentando as exigências nas apresentações e provocando uma revolução no meio. No começo, as caixas de e-mail de árbitros e técnicos foram inundadas com mensagens para que se posicionassem contra as inovações. Algum tempo foi necessário para que as coisas atingissem a estabilidade atual. Durante o Mundial em Aarhus, na Dinamarca, por exemplo, ajustes foram feitos no texto original e, passado o rebuliço inicial, o jeito foi aceitar o inevitável.

“Com esta mudança o que se busca é a perfeição e a precisão”, resume a árbitra internacional Yumi Yamamoto Sawasato. Brasileira, ex-ginasta, Yumi foi eleita pela FIG a melhor árbitra do mundo - premiação recebida dia 31 de outubro, em Genebra -, justificando a reformulação. O fato de tentar nivelar por cima os atletas até é reconhecido no meio, mas alguns narizes permanecem torcidos às inovações.

Auxiliar-técnica da equipe feminina brasileira, a ucraniana Iryna Iloyashenko é uma das que tem ressalvas às novidades. “A ginástica ficou muito pesada para as meninas”, reclama, sem saber se isto trará benefícios em longo prazo. O técnico da equipe feminina da República Tcheca, Stanislav Vyzina, é menos cético. Segundo ele, a dificuldade permanece igual para os competidores, havendo apenas um aumento nas exigências de execução. “O que conta é a rotina mais perfeita, quem fizer a melhor performance vai ganhar e isso é bom para todos”.

Para a árbitra mexicana Naomi Valenzo, o momento ainda é de ajustes e a modalidade segue testando as possibilidades do novo sistema. “Não está definido se tudo isso será um benefício completo. O fato é que o Código dá ao atleta a oportunidade de variação nas rotinas, mas por outro lado sacrifica a parte artística pelo receio de errar”.

Em termos qualitativos, quem era bom continua sendo e os atletas que se destacavam nas competições pelas regras antigas continuam sendo os atuais medalhistas. Foi assim com o ex-campeão mundial de solo e atual vice Diego Hypólito, com a chinesa Fei Cheng, campeã mundial de salto em 2005 e 2006, e com a inglesa Elizabeth Tweedle, terceira colocada nas barras assimétricas no Mundial de Melbourne e que ficou com o título na edição deste ano em Aarhus.

Treinadora de Elizabeth, Amanda Kirby, encara as novidades pelo lado positivo. “Eu gosto da idéia de as meninas poderem mostrar o mais alto nível em suas apresentações. Mas é muito estranho ver pontuações como as atuais”. No Mundial em Aarhus, a chinesa Fei foi campeã no salto com nota 16,075. Em Melbourne-2005, ela havia ficado com o título com nota 9,656.

Pelo novo sistema (leia box ao lado), as avaliações passam a contar separadamente performance e conteúdo. Ao mesmo tempo, as deduções por falhas de apresentação aumentaram significativamente e com receio de sofrer muitos descontos, os atletas evitam se arriscar demais em suas rotinas. “Hoje, os ginastas estão se segurando, buscando fazer o mais perfeito possível”, explica Yumi.

Esta mudança acaba sendo encarada hora como qualidade, hora como defeito do atual regulamento. “A nova regra ajuda a discriminar quem é realmente bom porque premia não apenas quem executa o movimento, mas quem o faz melhor. Antes, o código deixava todos muito próximos”, destaca a árbitra canadense Hélène Laliberté, que chama atenção para outro problema que pode surgir com o novo regulamento. “Temos de prestar atenção porque os elementos estão com alto nível técnico e alguns países podem acabar excluídos”.

Com 23 anos de arbitragem, ex-ginasta, ex-técnica e ex-consultora de atletas, Hélène vê a mudança como algo positivo no geral. “Acho que será uma coisa benéfica. Os países focarão incentivos, energia e esforços para evoluir. E os atletas terão de evoluir também”.

A argentina Mônica Calabro vê vantagem até para o público, que poderá compreender melhor as notas dadas aos ginastas. “Antes, as pontuações ficavam próximas, mesmo com os atletas fazendo coisas muito diferentes. Agora, a questão não é apenas de dificuldade, mas de qualidade na execução.

 
Fonte: www.gazetaesportiva.com.br
 
 

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