Favorito à corrida de São Silvestre teme poluição paulistana
28/12/2006 - 15:11 hs
Corrida de São Silvestre
O corredor Franck Caldeira é considerado o grande favorito para vencer a 82ª edição de São Silvestre deste ano, em São Paulo. Especialmente após as desistências de Marílson Gomes dos Santos e Vanderlei Cordeiro de Lima e a contusão do queniano Robert Cheruiyot. No entanto, um inimigo invisível pode acabar prejudicando o desempenho do melhor atleta brasileiro a participar da prova.
Realizada nas ruas da capital paulista, a corrida de São Silvestre traz junto à sua tradição uma enorme quantidade de poluição, que pode prejudicar, e muito, o desempenho do brasileiro na última prova do ano. "A poluição é grande em São Paulo, o que dificulta bastante, e o horário também não ajuda", explica Caldeira.
Para o técnico do corredor, Henrique Viana, existem três fatores que acabam colocando em risco a preparação feita em Campos do Jordão, interior do estado.
"São três elementos poluentes: micro partículas, monóxido de carbono e o ozônio. No primeiro caso, a poluição da descarga dos carros, principalmente de caminhões e ônibus, se junta com poeira e cria aqueles elementos que atrapalham a respiração. Já o monóxido de carbono, que também sai dos carros, adere a hemoglobina e evita que carregue o oxigênio", explica o treinador.
"O último elemento é o ozônio. Com as substâncias que o carro solta, quando as mesmas entram em contato com os raios ultravioletas emitidos pelo sol, cria-se o ozônio. E essa substância causa irritação, vermelhidão e inchaço na árvore respiratória. O pior horário é entre 11h e 15h. Como a prova é às 17h, menos quantidade é produzida", completa Viana.
Se passar pela barreira cinza que cobre São Paulo, Franck assume de vez a condição de favorito para vencer a prova. Condição que não abala o atleta mineiro de 23 anos. Vencedor da Volta da Pampulha, da Meia Maratona do Rio de Janeiro e da prova 10K, também disputada na capital fluminense, ele sabe que tem as credenciais para superar seus concorrentes na disputa marcada para o dia 31 de dezembro.
Embora o favoritismo preocupe seu técnico, Caldeira diz estar tranqüilo. Ciente das dificuldades impostas pelos 15km percurso, ele não teme os quenianos Mathew Cheboi, Kenneth Kosgei e Cosmers Kemboi, oponentes que coloca em condição de igualdade.
A inspiração para essa confiança não vem de Emerson Iser Bem ou Marílson dos Santos, brasileiros que venceram a São Silvestre recentemente. Tampouco de grandes atletas do passado. O ídolo de Franck Caldeira chama-se Franck Caldeira.
Terra - Esse favoritismo inesperado, devido à ausência de estrelas, tornou-se uma pressão?
Franck Caldeira - Tranqüilo. Se não tem outro, tem que ser eu (risos). É legal o pessoal acreditar em mim, e sei que não é por acaso. Tive bons tempos, bons resultados e o crescimento tem sido grande.
Terra - Você gosta dessa condição ou preferia correr sem esse peso nas costas?
Franck Caldeira - Fico um pouco apreensivo, mas a gente alivia isso conversando. Vou para brigar, mas o importante é participar, correr bem. A preparação já foi feita. Agora vamos ver o que dá.
Terra - Tem algum ídolo em quem você busca inspiração?
Franck Caldeira - Não pode se espelhar em um atleta só. Há vários que eu acho bons, como o Paul Tergat, agora o Marílson vem muito bem, mas eu me vejo como um vencedor. Eu sou meu próprio ídolo. Admiro minha disposição para levantar, trabalhar. Gosto da maneira como eu trabalho e busco inspiração nas pessoas próximas.
Terra - Quais são suas maiores preocupações no percurso da São Silvestre?
Franck Caldeira - É uma prova difícil, bastante complicada. Há vários fatores que podem ter influência no desempenho. A poluição é grande em São Paulo, o que dificulta bastante, e o horário também não ajuda. Às vezes, o tempo muda dois minutos antes da prova, mas tudo isso é superável.
Terra - Passa pela sua cabeça bater o recorde da prova?
Franck Caldeira - Não é hora para isso. Falaram sobre superar a marca do Paul Tergat, mas agora estou me preparando para fazer uma boa prova. O recorde fica para depois.
Terra - A subida da Av. Brigadeiro Luis Antônio é mesmo o local onde é decidida a corrida?
Franck Caldeira - A Brigadeiro é só mais um dos trechos. Criou-se um trauma em torno da subida, fala-se muito sobre esse assunto, mas isso acontece porque já é a parte final da prova, quando os atletas estão cansados. Se você chega sozinho na Brigadeiro, dificilmente será alcançado.
Terra - Qual é o trecho que mais preocupa?
Franck Caldeira - A parte entre o quilômetro oito e o quilômetro 12 é bastante perigosa. É relativamente rápida, mas o quilômetro nove é cheio de elevados, e o ritmo acaba caindo.
Terra - Os quenianos são mesmo seus maiores adversários?
Franck Caldeira - Esse negócio de ter medo dos quenianos já acabou. Temos condições de vencer, e eles respeitam bastante os brasileiros. Os quenianos têm chances, assim como eu, os atletas da minha equipe e alguns outros. A prova é uma grande surpresa.
Terra - Você pretende se especializar em provas de 10 mil metros ou em corridas mais longas?
Franck Caldeira - O Brasil tem mostrado potencial em provas de longa distância, mas é difícil escolher um dos dois caminhos por uma questão financeira. Eu gostaria de ter um apoio, uma grande empresa, para me concentrar em um dos dois tipos de corrida, mas, por enquanto, prefiro conciliar isso.