Everton Lopes tem apenas 18 anos e se destacou no último Mundial Juvenil, em 2006. De origem pobre, o lutador já lavou carros, carregou compras de supermercado e trabalhou como peão de obras. Luta boxe há apenas dois anos e meio.
- Assim como o Popó, vou disputar uma final do Pan com 18 anos. Ele foi prata perdendo para um cubano. Agora vou encarar um cubano também e vou conquistar esse ouro por ele. O Brasil está há muito tempo sem ganhar uma medalha de ouro. Venho treinando para tirar este peso do boxe - disse o pugilista, que se preparou na academia de Popó.
O adversário de Everton é complicado. Na sexta-feira, o brasileiro enfrenta o cubano Yordenis Ugas na briga pela medalha de ouro na categoria leve, para atletas de até 60kg. Ugas foi campeão mundial, em 2005, e também é jovem. Tem 21 anos.
- Já lutei com ele este ano e perdi nos detalhes. Ganhei os dois primeiros rounds e fui derrotado nos dois últimos. No final, foram só três pontos de diferença e a luta foi na casa dele, em Havana. Por isso, tenho condições de ganhar - disse Everton.
O pugilista não liga de falar das dificuldades da vida. Everton recebe apenas uma ajuda de custo por fazer parte da seleção brasileira de boxe. Não tem patrocinador. Mora com a mãe em uma casa humilde no bairro de Engenho Velho de Brotas, em Salvador.
- Só sonho com uma casa melhor. A gente mora em uma casa não muito agradável, mas tenho fé de que vai melhorar. Minha vida não melhorou muito financeiramente após entrar no boxe, mas o esporte me educou muito. Brigava muito na rua. Entreguei muita compra de supermercado para sobreviver, mas agora estou vivendo um sonho.
O passado de Pedro Lima não é diferente. Com 24 anos, o lutador já vendeu picolé, chocolate e salgadinhos na rua. Trabalhou como servente do pai, depois como pedreiro, e foi até carregador em uma loja de móveis. Aos 15 anos, foi convidado a conhecer uma academia e começou a treinar boxe. E na sexta-feira também luta pelo sonho do ouro. Ele vai disputar a final na categoria meio médio, para atletas de até 69kg, contra o americano Demetrius Andrade.
Vou lutar com o coração. Vendia chocolate na rua e agora estou aqui, disputando uma medalha de ouro. Não tem dinheiro que pague isso. Só de estar aqui, ouvindo a torcida gritar por mim, já valeu a pena tudo - disse Pedro.
Escolhido o melhor atleta do boxe pelo Comitê Olímpico Brasileiro, em 2006, Pedro Lima iniciou no boxe com Luis Carlos Dórea, que também foi técnico do campeão mundial Popó.
- Eu vendia chocolate nos ônibus, picolé na rua, e até fui servente de pedreiro. Mas o Dórea me ajudou. Ele nem me conhecia e me deu R$ 15 para comprar remédio. Agora estou aqui, na final de um Pan-Americano.
Chefe da equipe brasileira de boxe nos Jogos Pan-Americanos, Popó é só elogios aos pugilistas. Medalha de prata no Pan de Mar del Plata, em 1995, o ex-campeão mundial acredita na medalha de ouro na sexta-feira.
- Eles estão muito bem e têm chances. Esta nova geração é muito boa e é fruto de um investimento que foi feito. Eles viajaram, fizeram intercâmbio. E garantimos oito medalhas. No último Pan só ganhamos duas - disse Popó.