Quando deixaram o campo de jogo em Xangai, as meninas do Brasil, voltaram cabisbaixas pela derrota, mas acima de tudo, repletas de reclamações que durante o torneio tentaram camuflar.
O que parecia claro durante o Mundial, como questões relacionadas à premiação, escalação de equipe e apoio oficial e não ofical, parecia dissipar no ar, graças aos resultados positivos no decorrer do evento. E no fim, como explicou Elaine, "as coisas saíram a tona".
Muito preocupadas com sanções, punições e represálias, as meninas estavam receosas na noite entre o fim do jogo e o embarque. O que se passava no hotel do Brasil era claro: de um lado a comissão técnica, de outro dois grupos de jogadoras.
Um grupo, formado pelas atletas mais receosas de posturas mais diretas e duras. O outro, quem já estava pronto para pedir, exigir direitos e pagamentos atrasados.
Solicitando ao Terra sigilo, algumas atletas explicaram a necessidade de não terem seus nomes ligados às reivindicações, e o porquê da necessidade de esperar a chegada ao Brasil para que se conheça o teor destas reinvidicações.
"Principalmente, não entendemos como e porque não nos explicaram nada sobre a premiação do Pan. Nem do prêmio, nem das diárias que temos direito. Isso é certo?", perguntou uma das atacantes do Brasil.
Entre as que trabalham no exterior, uma das atletas disse ainda na concentração: "a faixa que foi vista no estádio, levantada por algumas jogadoras foi pouco. A Daiane tomou a iniciativa, mas todas estamos com ela, porque nada mais é que um pedido. O importante é o resto... aquilo que não veio. Estamos estudando como fazer nossas reinvindicações. Faremos isso de alguma maneira, seja pessoalmente ou por entrega de algum documento. Mas estamos todas muito decididas: vamos fazer algo! Não podemos ser simplesmente ignoradas! Não defendemos o Brasil de maneira decente? Que sejam pois, decentes conosco!".
A CBF receberá pelo vice campeonato US$ 850 mil de prêmio. Não se sabe quanto foi o prêmio pela medalha de ouro do Pan. "Nos prometeram muitas coisas depois de nossa medalha de prata nas Olimpíada-2004, em Atenas. Nem 20% disso foi cumprido.
Os membros da comissão técnica na China, disseram que "a questão de prêmios não é uma incumbência nossa. Não sabemos como funcionará isso..."
Outra jogadora que exige posições disse em Xangai: "Como assim...? não sabem o que? quem sabe então? Não recebemos sequer pagamento pela nossa campanha no Sul-Americano de Mar del Plata há meses!"
As jogadoras, com suas reinvidicações, definiram que desta vez falarão, explicariam a caminho de Paris, e que "antes da chegada ao Brasil, a situação estaria resolvida".
Mas há um outro lado, que apesar de tudo, parece também ter a importância de ser ouvido. A comissão técnica, que teve todo o aparato médico, alimentar e econômico durante esta Copa, inclusive com diárias, auxílio de cartões telefônicos e apoio organizacional em geral.
A CBF confirmou, em várias oportunidades ao Terra durante a Copa na China, que "os pagamentos serão feitos, que não haverá nenhum tipo de problema, e o Pan veio, logo após o Mundial, teríamos que fazer o quê? A não ser juntar os prêmios, cuidar das meninas. Quem cuida do futebol feminino no Brasil melhor que a CBF?", explicou Paulo Dutra, supervisor da Seleção.
"Cuido delas como filhas, conheço o trabalho e as necessidades. Creio que estamos fazendo um trabalho digno. Respeitamos as meninas e fazemos o que podemos, e um pouco mais. Somos cientes que há como crescer, mas o futebol feminino é o esporte que mais cresce no Brasil. E todo o crescimento é dificil. Mas não há ninguém que possa dizer que nos últimos dois outros anos, o crescimento não foi fantástico, dentro e fora do campo! Creio que estamos fazendo algo ainda mais importante: abrindo as portas, pensando, ouvindo a todos e a todas", disse o supervisor.
Dutra ressalta ainda que "a vitória aqui na Copa era sem dúvida importante. Perdemos por pouco, sem ter o histórico da Alemanha. Tudo o que se fala hoje, será esquecido, porque o futebol crescerá muito em nível feminino. Temos de ser inteligente e deixar trabalhar quem pode ajudar. Criticas negativas poderao ser fatores deliados para o desenvolvimentos das meninas".
Poucas seleções nesta Copa tiveram a estrutura que o Brasil teve durante o evento. Em relação à comissão técnica, o Brasil foi sempre bem elogiado pela organização da Fifa e teve presença em todas as reuniões, eventos e encontros oficiais.
Segundo Sylvia Neid, treinadora da seleção alemã, e grande jogadora na história do futebol de seu país, comentou ao fim do jogo final da Copa: "o Brasil é sem dúvida o país que mais se desenvolveu nos últimos cinco anos entre todas as seleções no futebol feminino. Me recordo de cenas absurdas no passado e, agora, o Brasil apresentou uma seleção organizada, dentro e fora do campo. Falei com algumas jogadoras e entendi que elas estão bem melhor que em outros tempos".
A treinadora diz acreditar "que não seja fácil para a Federação Brasileira coordenar tão rapidamente tudo, mas a mudança é impressionante. Antes o Brasil nada mais era que uma curiosidade. Hoje, com sua organização e apresentação, ela é uma das mais forte seleções do mundo".
Após 21 dias de eventos na China, o que se pode dizer é que o Brasil tem perspectivas mais positivas que qualquer outra seleção: enquanto as outras estão estagnadas em um nível, o Brasil é quem mais vai crescer, melhorar e, sem dúvida, tirar proveito da experiência das outras equipes, conseguindo assim, adaptar e lapidar seu futebol.
O vice-campeonato trouxe boas perspectivas e comprovação de melhorias para a equipe. Reclamações? Também surgiram. Mas por ter ficado visível o amplo desenvolvimento conseguido no trabalho com a Seleção.