Jornalista que irritou cartolas na Fifa nunca visitou Brasil
31/10/2007 - 08:04 hs
Copa do Mundo 2014
Feito o anúncio do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, o auditório da Casa Fifa, na cidade suíça de Zurique, ainda estava tomado por um clima de euforia quando a primeira pergunta causou constrangimento geral. Erika Bulman, 40 anos, repórter canadense da agência norte-americana de notícias Associated Press, abordou a violência no País. Além de uma resposta atravessada do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), fez o presidente da Fifa, Joseph Blatter (foto), voltar ao palco para rechaçar a questão.
Erika disse que nunca esteve no Brasil. Perguntada se pretendia um dia visitar o País, escapou. "Foi só uma pergunta...". A canadense ironizou ainda a atitude de Blatter. "Pensei que fosse uma entrevista. Mas não me surpreende a reação por vir do Blatter", provocou a repórter, que acusa o cartola de não aceitar perguntas que não desejaria que fossem feitas. A pergunta exata, endereçada a Teixeira, foi: "o Brasil é um dos países que tem os maiores números de assassinatos. É um dos lugares mais perigosos para visita de turistas. Queria saber o que o senhor fará para proteger os torcedores?".
Blatter saiu do sério. "Quando acertamos a Copa na África do Sul (2010), começaram com a mesma pergunta sobre criminalidade. Senhoras e senhores, um pouco de respeito ao futebol, à casa da Fifa e a todos", esbravejou o presidente da Fifa, visivelmente irritado.
"A resposta do Teixeira eu achei realmente boa. Foi inflamada! Ele reagiu, respondeu. Achei adequado", completou Erika, A repórter acredita que o presidente da CBF quis saber sua nacionalidade para poder dar o troco na resposta. Sem dar detalhes, o cartola disse que jogadores da Seleção Brasileira Sub-20 sofreram algum tipo de agressão por parte de policiais canadenses durante o Mundial da categoria, realizado neste ano no país.
Questionado sobre o assunto, Lula também deixou transparecer sua insatisfação. "Eu acho que o Ricardo Teixeira respondeu à pergunta de uma canadense porque tem gente que acha que nos países emergentes não pode acontecer nada. As críticas que fizeram para o Brasil, também fizeram para a África do Sul, para a Argentina, para o México... Porque tem parte das pessoas que acha que as coisas só podem ser feitas nos Estados Unidos ou na Europa. Em se tratando de futebol e evento, o Brasil não deve nada a ninguém. Nós vamos dar o exemplo como demos na segurança do Pan", disse.
Depois que a poeira baixou, conversas de bastidores mostraram que a atitude enérgica de Blatter teve a intenção de proteger o mais ilustre convidado do dia, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A Fifa não queria ver acuada dentro de sua casa a mais alta autoridade presente. Cercada após o término da entrevista, Erika viu caras feias de alguns brasileiros, enquanto acabou parabenizada por outros. De um jornalista estrangeiro, inglês, ganhou até um abraço. No geral, foi desaprovada pela abordagem. Mas em momento algum pelo assunto.