Djalma Santos (foto) e Zito, campeões mundiais pela seleção brasileira em 1958 e 1962, são de uma época em que o jogador de futebol não tinha status, não era estrela e nem ficava milionário. Eles defendiam as cores de um clube por amor.
A premiação pela conquista da Copa de 1958, por exemplo, foi de US$ 2 mil (atualmente cerca de R$ 3.800) para cada jogador.
- O reconhecimento existe pelo que fizemos. Financeiramente, não. Mas também não pensávamos nisso na época. Prêmio, dinheiro, nada. Só queríamos jogar bola - disse Zito.
Nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro, os dois lembraram de histórias da primeira conquista mundial brasileira durante o lançamento da camisa azul da seleção, que se inspira no modelo usado pelos craques de 1958.
- Ganhamos algumas coisas por aquela conquista. Como um terreno em Mato Grosso que até hoje não achei (risos). Deve ser no meio do mato, por isso não encontrei. Na época, o prêmio era um relógio, coisa assim, pequena - lembra Djalma Santos.
- Foi um relógio da revista Cruzeiro, que até que era bom. Ganhei também muitos terrenos, mas também não achei nenhum (risos). Não ganhamos nada, mas para a gente não pesou. Queríamos era ganhar uma Copa do Mundo, que era o nosso maior prêmio. O futebol continua o mesmo. A diferença é que hoje tem mais dinheiro - completa Zito.
O ex-volante, que atuou por 16 anos no Santos, lamenta que o futebol tenha se transformado em um produto capitalista. Zito cita o exemplo do último ídolo santista.
- O sonho do Robinho aos 15 anos era jogar no Barcelona. E hoje ele está no Real Madrid. O futebol mudou, é assim agora. Na minha época não se trocava de clube por dinheiro.
Djalma Santos mora atualmente em Uberaba, cidade do interior de Minas Gerais, onde tem uma escolinha de futebol. Não tem o luxo dos jogadores atuais, mas vive feliz.
- Era um outro tempo. Os cantores também não ganhavam nada. Faziam shows quase de graça. Hoje qualquer um cobra R$ 200 mil. Mas não há mágoa. O principal é que ganhamos respeito e dignidade.
Pelé era visto como um bom jogador, mas não como um craque Zito e Djalma Santos eram considerados experientes na seleção brasileira durante a Copa de 1958. A dupla lembra como foi a chegada de Pelé, aos 16 anos, na equipe. Companheiro de Pelé no Santos, Zito não esperava que o Rei do Futebol se tornaria a estrela do Brasil na Copa de 1958.
- Não era possível pensar naquela época que ele seria o que foi. Víamos o Pelé como um grande jogador que estava nascendo. Ele estava começando a carreira. Foi uma novidade ele ter sido convocado. Ele era muito novo mesmo. Naquela época não se convocava jogadores tão jovens. E ele foi crescendo durante a Copa, durante os nossos treinamentos. E aí fez o que fez. O Pelé é incomparável até hoje.
Djalma Santos também admite que se surpreendeu com o rendimento de Pelé na Copa de 1958.
- O Zito apresentou o Pelé a todos. Era um garoto e sabíamos do seu potencial. Mas não sabíamos que ele estouraria como estourou.
Sobre Garrincha, Zito lembra o jeito descontraído do Anjo das Pernas Tortas.
- O Garrincha era um eterno brincalhão. Não tinha como exigir muito dele. Ele fazia o que queria. Tinha que aceitá-lo daquela forma. Jogando o futebol que jogava, era melhor que fosse assim mesmo.
Zito considera a primeira conquista em 1958 a mais importante da história do futebol brasileiro.
- Foi o primeiro título da seleção. Sempre chegávamos perto e não ganhávamos. Então esse título foi a afirmação do futebol brasileiro no mundo. Foi o começo de tudo.
Era uma época diferente, em que pouco se sabia dos adversários. Não havia informações ou se conheciam os jogadores.
- Não vimos nenhum jogo dos novos rivais. Não era como hoje. Só tínhamos um espião que via os adversários e contava alguns detalhes de como eles jogavam.
Sempre bem-humorado, Djalma Santos lembra que foi mais fácil ganhar a Copa do Mundo do que chegar em casa. Só no Rio de Janeiro, mais de um milhão de pessoas esperavam para recepcionar a seleção brasileira.
- Na volta para o Brasil, paramos em Lisboa, em Recife, demos uma voltinha na Bahia e passamos um dia todo desfilando no Rio de Janeiro. Só cheguei em São Paulo no outro dia, mas passamos de novo horas em cima de um caminhão desfilando. Foi uma maratona. Tínhamos que fazer as necessidades ali mesmo, um horror (risos). Só consegui chegar em casa quando me enfiaram num carro e me mandaram abaixar para me esconder da torcida. Tudo isso marcou. Sabíamos que tínhamos o dever cumprido.