Caso raro, Rogério Ceni ganha status de 'pop-star' internacional
06/02/2008 - 10:55 hs
No ano passado, Rogério Ceni teve um destaque internacional raramente vivido por um jogador que tenha feito sua trajetória apenas no Brasil, principalmente após o "boom" da exportação. Indicado à Bola de Ouro da revista France Football e vencedor de uma enquete popular proposta pela Fifa, o goleiro ainda colecionou prêmios no futebol brasileiro (foto) Capitão do São Paulo na conquista do pentacampeonato nacional, o camisa 1 foi eleito pela CBF o melhor goleiro e o craque do campeonato na última edição do Brasileirão - e ainda recebeu o status de craque da torcida. Em 2006, quando também foi campeão, ele já havia sido considerado o melhor do Nacional.
Segundo o jogador, todo o destaque acumulado nos últimos três anos só foi possível graças às conquistas internacionais de 2005. Naquele ano, o time do Morumbi ganhou pela terceira vez a Libertadores e o Mundial. "A visibilidade pessoal se dá pelos anos seguidos de vitórias no clube", disse Ceni.
Autor de 78 gols e dono do título de maior goleiro-artilheiro do mundo, Rogério Ceni inicia a temporada 2008 com um único objetivo: manter a seqüência de conquistas, não importa em qual competição. Seja Paulista, Libertadores ou Brasileiro, o importante é não passar o ano em branco.
Mas o capitão são-paulino ainda acha que falta montar um time. Apesar dos bons jogadores que chegaram para reforçar o elenco, o camisa 1 não vê uma equipe formada. "Nós continuamos com um elenco pequeno, mas com qualidade técnica superior à do ano passado. O que precisamos formar agora é um time, com os 11 unidos no mesmo objetivo", opinou o goleiro tricolor.
Confira a seguir a entrevista exclusiva com o goleiro concedida ao Pelé.Net enquanto ele pedalava no Reffis. Os 18 minutos iniciais de exercício viraram 28. "Poxa, vocês me incentivaram a pedalar mais tempo".
Pelé.Net - Dificilmente um jogador que atuou somente no Brasil tem o destaque internacional que você teve no ano passado. O que fez de diferente?
Rogério Ceni - Eu acho que a visibilidade pessoal se dá pelos anos seguidos de conquistas num clube. Por mais que você faça, se não está num time vencedor, com anos consecutivos de conquistas, dificilmente terá uma visibilidade tão grande. Logicamente que eu fiz grandes campeonatos nos últimos anos, mas o que leva a ter notoriedade é a conquista do clube. Por mais que você tenha bons jogos, boas defesas, se não culminar com conquistas, dificilmente o destaque virá.
Pelé.Net - Você vê a possibilidade de um outro jogador, que como você só atuou no Brasil, ter a mesma repercussão fora do país?
Rogério Ceni - Acho que é completamente possível, desde que o time dele conquiste títulos internacionais. Se o jogador não for de uma equipe que ganha a Libertadores, depois o Mundial é muito difícil o reconhecimento fora do país. Eu fui indicado a prêmios, por exemplo, porque o São Paulo é conhecido internacionalmente. Participar só de jogos regionais e nacionais não dá destaque.
Pelé.Net - Para um goleiro esse caminho até o estrelato internacional é mais complicado do que para um jogador de linha?
Rogério Ceni - Depende de tudo o que aconteça. Eu acho mais difícil para um goleiro porque se você tem um time relativamente fraco, o goleiro vai aparecer bastante e não ganhar nada. Se você tem uma equipe forte, o goleiro aparece menos, mas está chegando a decisões. Então tem que ter uma mescla de jogos importantes, decisivos e fundamentais para uma conquista. Assim o espaço vem.
Pelé.Net - Você concorda com os críticos que avaliam a temporada de 2007 como a sua melhor debaixo do gol?
Rogério Ceni - Não. Eu sempre tive uma regularidade muito grande durante todos esses anos. Goleiro que tem fase não dura 11 anos jogando num clube só, num clube grande e de visibilidade como o São Paulo. A única diferença é que nos primeiros anos os títulos não vieram. Logicamente eu fui melhorando com o tempo, fui amadurecendo, fiquei mais experiente, mas os últimos anos culminaram com títulos e ajudaram a mostrar essa regularidade.
Pelé.Net - O fato de não ter marcado tantos gols como em 2005 e 2007 fez as pessoas observarem mais o Rogério como goleiro?
Rogério Ceni - Eu acho que minha fase embaixo do gol é tão boa como nos últimos anos, mas eu realmente fiz menos gols. Mesmo assim foi o terceiro ano que eu mais fiz gols em minha carreira [2005, 21, 2006, 16, e 2007, 10]. Houve uma queda. Em contrapartida, os adversários estão sabendo mais, analisando mais, e se preparando mais para defender.
Pelé.Net - Alguns goleiros pelo Brasil têm "imitado" você e saindo do gol para bater faltas e pênaltis. Como vê esses seguidores?
Rogério Ceni - Eu nunca pensei em influenciar outras pessoas mais jovens, porque isso é uma coisa natural. Mas eu vejo que o goleiro brasileiro tem adquirido uma personalidade nova, um estilo. Não é necessário fazer gols para ser um grande goleiro. Agora, saber trabalhar com os pés eu acho muito importante. Saber lançar, sair jogando, isso dá confiança aos zagueiros. Os goleiros de hoje que batem falta já pegaram um caminho sem preconceito. Hoje não existe mais esse negócio de 'será que deve?' Hoje é para ir. Na minha época achavam que não devia.