Apesar de toda a badalação em torno de Thiago Pereira, a estrela da natação brasileira responde pelo nome de César Cielo. É ele quem tem a maior chance de conquistar uma medalha olímpica nos Jogos de Pequim, em agosto, e salvar o País de repetir o fracasso de Atenas-2004, quando nenhum nadador subiu no pódio olímpico - fato que não acontecia desde Seul-1988. Mesmo carregando esse fardo, o paulista de Santa Bárbara D'Oeste tira todo o peso das costas ao se lembrar que, além de ser estreante em Olimpíadas, é o mais novo entre os concorrentes.
"Eu me vejo numa fase de evolução no momento. Sou o mais novo dos velocistas que estão brigando por medalhas e isso me deixa numa situação confortável", disse Cielo.
"A pressão está presente, é claro, mas na minha cabeça a cobrança que eu tenho não chega nem perto da pressão que os mais velhos sentem. Estou tentando usar isso como vantagem", completou.
Cielo coloca mais dois brasileiros para dividir a pressão com ele. "Tanto o Kaio (Márcio) como o Thiago (Pereira) são fortes candidatos a uma medalha.
Quase recorde no pan Cielo se credenciou a um lugar no pódio olímpico após surpreender o Brasil e o mundo ao cravar 21s84 nos 50m livres no Pan do Rio, em julho, e ficar a apenas dois décimos do recorde mundial, pertencente ao russo Alexander Popov desde 2000. Mesmo com a marca - com a qual teria vencido a prova no Mundial de Melbourne de 2007 - o paulista não promete medalhas, nem recordes.
O atleta e seus técnicos já acharam erros em seu desempenho no Pan e estão trabalhando para diminuir o tempo até Pequim. Apesar de não estabelecer uma marca como meta, Cielo ainda não sabe até onde é capaz de chegar.
"Não sei dizer qual tempo eu posso chegar. Quando acho que fiz uma prova fantástica e que vai ser muito difícil melhorar o tempo, meus técnicos sempre acham erros", explicou o velocista, que também nadará os 100m livre na Olimpíada. "No Pan, meu submerso depois do mergulho não foi bom. Eu errei no primeiro movimento de pernas e isso diminuiu a velocidade que eu tinha adquirido da saída. Ainda não sei qual é o meu limite, por isso busco uma prova perfeita".
"Escondido" na pequena e monótona cidade americana de Auburn, no Arizona, de apenas 70 mil habitantes, Cielo se beneficia da distância do público brasileiro e do assédio da imprensa e dos fãs para levar uma vida tranqüila, sem tentações, focada apenas nos treinos diários e na faculdade - cursa administração e espanhol.
Longe da família e dos amigos, o nadador usa uma tática parecida a de livros de auto-ajuda para se motivar em momentos de fraqueza, quando bate a saudade ou a vontade de querer largar tudo. Nas paredes de seu quarto, Cielo cola frases de reflexão para lembrar a todo momento que qualquer sacrifício vale a pena quando se tem metas a alcançar.
"Eu coloquei uma nova a poucos dias, que na verdade eu recebi de uma fã, por e-mail. Achei muito interessante e acabei colando na parede. A frase é 'Não desperdice a chance que você mesmo criou'", diz o velocista. "A saudade da família bate, muitas vezes bate bem forte, mas é aí que entram minhas frases na parede. Eu sempre olho para elas como um guia que me mantém nos trilhos. Os objetivos precisam estar sempre muito claros, não só pra mim, mas pra minha família também. Um lado ajuda o outro".