A nadadora Rebeca Gusmão (foto) embarcou ontem para Lausanne, na Suíça, para fazer o vôo mais importante da sua vida. A atleta, suspensa preventivamente pela Federação Internacional de Natação (Fina) por ter nível de testosterona alto em sua urina, testada em maio de 2006, e por acusar a presença da mesma substância exógena (ingerida), no dia 13 de julho, será ouvida nos próximos dias pela Corte Arbitral do Esporte (CAS). A atleta contou que, caso seja suspensa, planeja ter um filho.
O caso deverá ter um ponto final em breve e tudo pode acontecer. A atleta, 23 anos, primeira nadadora a conquistar uma medalha em um Pan-Americano, poderá ser condenada ou absolvida e, se condenada, a pena dependerá inteiramente da Corte.
O risco de Rebeca ser banida do esporte não existe, pois uma suspensão anularia a outra. Há a possibilidade de absolvição total, caso a CAS considere que o teste de maio de 2006 estava prejudicado pela presença de bactérias, o que, pelo regulamento da Fina, é possível, e ainda se o exame do dia 13 de julho não for confirmado positivo, já que houve problemas com a amostra B.
"Estou tranqüila. Se tudo correr dentro do previsto, mesmo com todas as mudanças de regras, sairemos bem. Não há lugar melhor que o CAS para ser julgada. Eles são rígidos, mas são muito profissionais", disse, confiante, em entrevista ao O Dia.
Rebeca Gusmão deixará o Brasil acompanhada de seus dois advogados, do médico-especialista em doping José Blanco Herrera e da médica Renata Castro, ex-diretora médica da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), que acompanhou o caso.
Caso seja condenada, a nadadora não pensa em parar de nadar e irá aproveitar o período de suspensão para constituir uma família.
"Conversei muito com meu marido e decidimos que teríamos um filho. Assim, teríamos uma tristeza, mas também teríamos uma alegria", conta a atleta, que confessa que chegou a pensar em abandonar a natação. "Isso chegou a passar pela minha cabeça. Mas sempre nadei por amor à natação. E continuo amando o que faço".
Se for absolvida, Rebeca espera continuar com seus treinamentos e estará inteiramente focada nos Jogos de Pequim.
"O psicológico é tudo. Fisicamente estou muito bem. Voltarei a competir o quanto antes. Vou focar muito nos treinos, continuar melhorando minha forma física, com a cabeça voltada para isso", conta, ressaltando que não participaria do Sul-Americano Absoluto (que acontece em São Paulo, no próximo dia 12) para "não tirar a vez de atletas que estão se preparando para esta competição" e sim treinar.
Sobre as polêmicas que cercaram o mais famoso caso de doping do Brasil, a atleta acredita na justiça e diz que o envolvimento de "pessoas que não deveriam estar no processo" acabou atrapalhando.
"Tenho muita mágoa pela forma como as coisas aconteceram. Muita gente se meteu onde não tinha que se meter. Eu sabia das coisas através da mídia. Posso falar com todas as letras: a Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana) mentiu. Recebi uma carta falando da presença da substância, mas a contra-prova ainda não havia sido aberta. Como pode? Me decepcionei com a entidade que pensava que fosse séria", critica.
suspensão de doping na natação cancelada O nadador croata Marko Strahija havia testado positivo em 8 de novembro do ano passado. Em dezembro, foi suspenso temporariamente, situação igual a de Rebeca Gusmão.
Na última semana de fevereiro desta ano, o Comitê de Doping da Fina cancelou a suspensão do nadador e o liberou para voltar a competir. Segundo o boletim técnico da Federação, o atleta, através de seu médico, apresentou documentação suficiente que comprovou o uso da medicação sob autorização e atendeu às regras de doping da entidade.