PARTE 2 -
Moura Miranda (*)
Diz uma lenda, ou seria fato, que um dia a sonhada união entre Uberaba Sport Club e Nacional Futebol Clube esteve por acontecer.
Depois de muita insistência de torcedores, de ambos os lados, e de parte da imprensa, os “cardeais” dos dois clubes aceitaram assentar-se para discutir o assunto. Antes, porém, nomearam um “magistrado”, que todos acreditavam ser de extrema imparcialidade, para sugerir como deveria acontecer a tão sonhada fusão ou união, como queiram. Na data marcada lá estava o “magistrado, assentado na cabeceira de uma grande mesa, tendo de um lado cinco “cardeais” colorados e cinco “cardeais” alvinegros.
Depois das apresentações de praxe e dos cumprimentos, o “juiz” começou a apresentar sua sugestão. “Vamos usar um critério de inteira justiça e imparcialidade”, disse ele. “Para começar, escolheremos o nome do novo clube. Sugiro que, por ser a partir de agora o único clube de futebol profissional da cidade, nada mais certo que o seu primeiro nome seja UBERABA.
Vamos dividir o restante entre as atuais agremiações, pegando o SPORT, do Uberaba e o CLUBE do Nacional. O novo clube passaria, então, a se chamar: UBERABA SPORT CLUB.” Após esta primeira sugestão, um dos árabes-descendentes (acho que sou o primeiro a usar esta expressão), que representava o alvinegro, deixou a reunião nada satisfeito e protestando.
“Vamos para o segundo item de nossa discussão, prosseguiu o “magistrado”. Vamos, agora, escolher como será o uniforme do novo clube, tudo dentro de um critério justo e honesto, obedecendo as cores e tradições das atuais agremiações. Sugiro que o novo clube tenha na camisa o vermelho, do Uberaba” (o segundo árabe-descendente levantou-se e saiu) “e o branco, do Nacional, ficando, portanto, a camisa com as cores alvirrubra. O calção ficará com a cor branca, do Nacional” (o terceiro árabe-descendente deixou a reunião), e as meias, o vermelho do Uberaba.”
Os dois remanescentes da representação nacionalista, pronunciando palavras na língua pátria de seus antepassados, também se mandaram.
Garante a lenda, ou fato, que eles se dirigiram para um clube do bairro São Benedito e de lá fizeram uma ligação internacional para patrícios do “hesbolath”, contando a humilhação a que foram submetidos. Do Oriente receberam a ordem trágica: morte a todos os vermelhos. Alguém ainda indagou: “por tiro ou por bomba?” “Nem por tiro e nem por bomba”, respondeu o revolucionário: “por raiva”. Explicando em seguida que, como a “raça” não tem muita pressa em resolver suas “pendengas”, a ordem poderia demorar séculos, mas teria que ser obedecida em nome de sei lá quem. Desligado o telefone, alguém bradou: “morte aos vermelhos!”. “Por raiva!”, completou outro. A partir de então a rivalidade virou pirraça e persiste até hoje. Não basta ser bom para um. Tem que ser ruim para o outro.
Verdade ou mentira, lenda ou fato, o que importa é que os dois tradicionais clubes uberabenses vivem se digladiando, mais fora que dentro de campo. Influenciados, ou não, pelos “patrícios”, os árabes-descendentes são firmes em suas posições e não aceitam sequer ouvir falar novamente a palavra união. Outro curioso episódio aconteceu recentemente. Sabedor de que o Uberaba está prestes a perder seu estádio, o prefeito da cidade estaria disposto a disponibilizar uma área na Univerdecidade para o clube construir um centro de treinamento.
Os alvinegros gritaram: “opa!, queremos também!”. E dizem que a área será dividida; afinal, político que é político não briga com ninguém, muito menos com clube de futebol onde o coração fala mais que a razão. Perguntaram a um nacionalista: “mas vocês precisam de um campo?”. Ele respondeu: “não”. “Têm dinheiro para construir um novo centro de treinamento?”. “Não, também”. “Precisam vender o Complexo JK para pagar show de artista famoso, hotel, INSS, FGTS, etc?”. Outro não como resposta. “Então, o querem?”. “Só cumprir a ordem”.
Na próxima semana prometo escrever a última parte deste apaixonante tema.
Bom dia a todos!
(*) jornalista, radialista, comentarista esportivo e ex-secretário municipal de Esporte, Turismo e Lazer;
mouramiranda10@hotmail.com
foto: Arquivo (Rádio Sete Colinas)
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