Delaroli admite pressão maior após doping de Rebeca
26/06/2008 - 07:52 hs
Quase sete meses depois de receber a notícia do suposto doping de Rebeca Gusmão durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro no ano passado, a natação brasileira ainda vive as conseqüências da punição imposta pela Federação Internacional de Natação (Fina), às vésperas da Olimpíada de Pequim.
Depois de se destacar como um dos maiores nomes na campanha mais vitoriosa do País em edições de Pan-Americanos, conquistando quatro medalhas nas piscinas cariocas (duas de ouro, uma de prata e uma de bronze), Gusmão viu seu nome envolvido em uma acusação de uso de testosterona e perdeu os prêmios conquistados na capital fluminense.
Garantida em Pequim nas provas dos 50m livre e no revezamento 4x100m livre, a mineira Flávia Delaroli acredita que o caso não deve apagar o trabalho construído nos últimos quatro anos no Brasil, mas admite que a pressão aumenta sobre o grupo verde e amarelo antes do embarque para a capital chinesa.
"Esse fato é lastimável, mas não pode sujar o que foi feito em quatro anos, que vai muito além do que pode ter acontecido", disse a atleta, sem esconder a insatisfação. "O que aconteceu com a Rebeca reflete nas outras nadadoras brasileiras", admitiu a nadadora do Esporte Clube Pinheiros.
Outro representante em Pequim, um dos mais jovens da delegação brasileira da natação, Lucas Salatta acredita que o doping de Rebeca prejudica a imagem do esporte nacional, mas destacou que a suspensão de dois anos aplicada à atleta é justa.
"Isso é um pouco chato, fica até difícil saber o que aconteceu. Mas se foi pega, é porque estava usando algo proibido. Acho que acaba sujando um pouco o nome da natação brasileira, mas a Justiça tem que ser feita. E se foi usado algo ilegal, acho que a punição foi justa", disse Salatta, 21 anos, que garantiu vaga nos 200m costas e no revezamento 4x200m livre.
Apesar da pouca idade, o nadador já comemorou as primeiras vitórias na carreira defendendo o País. Além de garantir vaga à sua segunda Olimpíada, Salatta conquistou duas medalhas no ano passado, nos Jogos Pan-Americanos do Rio, quando faturou o ouro nos 4x200 livre e ficou com o bronze nos 200m costas.
Porém, desta vez, o paulistano acredita em melhores resultados contra os melhores atletas do mundo. "Em 2004 (em Atenas), tinha apenas 17 anos, senti um pouco o clima da Olimpíada e nem consegui chegar perto da minha melhor marca. Hoje vejo que foi mais para adquirir experiência para as outras e estou muito mais confiante para Pequim".
Já Delaroli, que figura entra as maiores chances de medalha brasileira no Centro Aquático Nacional de Pequim, mais conhecido como "cubo aquático", aposta na nova geração de nadadores nacionais para quebrar um jejum e voltar a colocar a bandeira verde e amarela no pódio da modalidade. "As pessoas sempre esperam medalhas e vejo que a natação brasileira está em progresso", disse.
Com apenas nove medalhas olímpicas, a natação no Brasil nunca ficou no topo de nenhuma prova em disputa nas 28 edições anteriores e acumula três de prata e seis de bronze. O último segundo lugar foi conquistado em 1996, com Gustavo Borges, nos 200m livre de Atlanta. Já a última medalha veio há oito anos, em Sydney, no bronze com o revezamento 4x100 livre formado por Fernando Scherer, Gustavo Borges, Carlos Jayme e Edvaldo Valério.
Diante do retrospecto desfavorável, a mineira de Itapatinga também prevê dificuldades fora das piscinas, na adaptação à cultura local. Depois da primeira passagem pela capital chinesa há poucos meses, onde conheceu a estrutura dos Jogos e aproveitou para ir às compras, a atleta já deu os primeiros passos para acelerar à adaptação.
"Fui para ver 'muamba'. Mas também aproveitei para comprar um livro que ajuda a entender alguns hábitos, superstições locais e a cultura. Meu irmão também me deu um livro sobre como falar tudo em chinês, mas eu duvido que aprenderei a tempo", brincou