Na minha opinião, baseada em muitos anos de vivência esportiva, um bom clube de futebol profissional do interior brasileiro deve ter as qualidades e os recursos que se seguem. Primeiro uma diretoria composta de pessoas que gostem de futebol. De preferência com alguma competência administrativa comprovada, que seja capaz de tomar decisões rápidas e definitivas. Que principalmente o seu presidente seja uma figura com livre trânsito entre entidades, autoridades, empresários e tenha o mínimo de credibilidade necessário para um relacionamento respeitoso com a imprensa e torcedores. Que não seja um ingênuo capaz de acreditar em qualquer conversa de malandros e aproveitadores e tão esperto que chegue ao clube com as mãos vazias e de lá saia muito melhor do que entrou.
Os demais diretores devem ocupar cargos para os quais tenham um mínimo de preparo. De nada adianta aceitar ser diretor apenas porque diz gostar do clube ou para satisfazer suas vaidades pessoais. Ser responsável por um setor e ficar mesmo é dando palpites em outros. Uma boa diretoria deve ter preceitos como hierarquia, lealdade entre os seus componentes e o máximo de transparência em seus atos. Deve estar ciente que o seu desempenho fora de campo pode refletir no rendimento do time dentro das quatro linhas.
Fazendo a ligação entre o time e a diretoria deve existir a figura de um bom diretor de futebol. Um interlocutor que saiba levar problemas e trazer soluções. Uma pessoa experiente no ramo capaz de distinguir o que é verdade e o que é mentira no futebol, com honestidade suficiente para ver sempre os interesses do clube em primeiro lugar. Justo para não ser traído pela paixão em momentos que deve prevalecer à razão.
Uma boa comissão técnica começa com um bom supervisor. Um funcionário competente, organizado e capaz de resolver qualquer obstáculo burocrático que encontre pela frente a tempo e a hora. Nesta equipe de trabalho o ponto alto deve ser o treinador. O comandante que toma as decisões que levam o clube a vitórias ou derrotas. O estrategista que na batalha de dentro do campo tenha competência para anular as qualidades do adversário fazendo prevalecer o seu planejamento e a sua preparação na conquista do objetivo que é a vitória ou o título em disputa. Os treinadores com maiores conquistas no futebol de hoje, são os que sabem somar autoridade, trabalho, psicologia, coragem, ousadia e confiança. Princípios indispensáveis para se alcançar vitórias. O preparo físico é o combustível de uma equipe. Por isto o preparador precisa ser um profissional competente e com conhecimento qualificado da função para tirar o máximo dos atletas sem levá-los a qualquer tipo e exaustão. É de fundamental importância que não tenha ambições de se tornar o treinador e esteja sempre satisfeito e disposto a cumprir o papel que lhe é reservado. Um médico conhecedor da área esportiva, um massagista que não tenha a pretensão de ser médico sem ter estudado para tal e um roupeiro conhecedor de suas obrigações completa o time que fora de campo trabalha para proporcionar aos verdadeiros artistas da bola as melhores condições para que eles desempenhem da melhor maneira possível suas funções. Uma vitória muitas vezes é conquistada graças à somatória de pequenos detalhes formados ao longo de um trabalho e que não são vistos dentro de campo ao longo dos 90 minutos.
Um bom time de futebol precisa ter 11 jogadores titulares dentro de campo e mais no mínimo 05 no banco de reservas com qualidades suficientes para realizar o que foi planejado e treinado durante a semana. Deve se ter o que é chamado, na gíria esportiva, de “espinha dorsal” com qualidade superior aos demais setores da mesma. “Um bom time começa com um bom goleiro”. Este é um dos ditados mais antigos do futebol. Um zagueiro tipo “xerife” que imponha respeito aos adversários e saiba orientar os companheiros é fundamental. Uma camisa 10, pelo menos até pouco tempo atrás tinha que ser este obrigatoriamente o número do articulador das jogadas, do pensador-lançador, do jogador capaz de fazer com o maior grau de perfeição possível a ligação entre o setor defensivo e o ofensivo. E para completar esta linha mestra de uma boa equipe chegamos ao atleta de conclusão. Aquele que na maioria das vezes mesmo sem ter uma qualidade técnica refinada sabe colocar a bola no fundo da rede adversária e fazer sua torcida explodir de alegria. O bom leitor-torcedor já deve estar indagando: e o resto? É claro que os demais jogadores também são importantes. Se o dinheiro existente nos cofres do clube for suficiente para colocar craques em todas as posições será muito bom. Mas como estou divagando sobre as qualidades de um bom clube do interior brasileiro onde dinheiro farto é utopia, que se gaste 50% do disponível com este setor “espinha dorsal”, mais 10% com um bom goleiro reserva, pois sem qualidade ele não resolve, e o restante do disponível com o resto do elenco.
Esta é, na minha opinião, a melhor fórmula de construir um bom clube de futebol profissional do interior. É preciso que se leve em consideração a realidade do futebol atual. Que se saiba que atualmente é tão difícil encontrar dirigentes desprovidos de vaidades e com algum grau de competência, quanto achar na sobra deixada por olheiros, agentes, procuradores e empresários, jogadores com um mínimo de qualidade para desempenhar bem suas funções em um time vencedor.
Que neste momento de encerramento da temporada de 2008, e início de preparativos para temporada de 2009, o Uberaba Sport Club possa conseguir se aproximar ao máximo da teoria-divagante deste jornalista que, com saudades, ousa a sonhar com um futuro pelo menos parecido com o passado, um pouco distante é verdade, do nosso futebol.
Um domingo de boas lembranças e muitas saudades a todos.