A explosão dos carijós saiu do hino e tomou o Estádio Municipal no início da noite de ontem (foto). Mesmo perdendo por 2 a 1 para o América, o Tupi conquistou o título da Taça Minas Gerais, o mais importante de sua história. Como havia vencido o jogo de ida por 3 a 1, o Alvinegro poderia até perder por dois gols de diferença que, ainda assim, levantaria o caneco. E, como já virou tradição na trajetória do clube, mais uma vez, o título foi suado e sofrido.
Os cerca de 5 mil torcedores que compareceram ao estádio tiveram que ver o América abrir o marcador e terminar a partida na frente antes de soltar o grito que estava preso na garganta há sete anos, desde a conquista do Módulo II do Campeonato Mineiro. Além de comemorar o título, o torcedor festejou a vaga conquistada para a Copa do Brasil de 2009. O América, vice-campeão da Taça Minas, ganhou o direito de disputar a Série D do Brasileirão no próximo ano.
Desacreditado após ter sido desclassificado na Série C do Campeonato Brasileiro, o grupo mostrou força e união, fez a melhor campanha entre todos os times do torneio e ainda levou a melhor no final. Justamente por isso, jogadores e comissão técnica fizeram questão de comemorar após o apito final entre si e com a torcida, que invadiu o gramado para abraçar os jogadores e tirar fotos com os heróis da conquista.
"Conquistamos o título praticamente com os mesmos jogadores eliminados da Série C. Isso aconteceu porque nossa comissão técnica conseguiu tirar de cada um o melhor que podia dar", decretou o presidente do clube, Áureo Fortuna.
Coração e mente
Um dos principais responsáveis pela conquista, o técnico Wellington Fajardo assumiu um grupo limitado em número de atletas e com auto-estima em baixa. Ainda assim, conseguiu evoluir e chegar ao título, o seu primeiro à frente do Tupi, time que já comandou em três ocasiões. "Foi sofrido, como sempre no Tupi, mas estou muito feliz, e agora é só comemorar. Este título coroa tudo o que já vivi no Tupi", emocionou-se Fajardo.
Os jogadores também explodiram em alegria e fizeram questão de dividir os louros da conquista. "Das tias da cozinha aos jogadores e à imprensa que acompanha nosso trabalho, o título é de todos, e ninguém merecia mais que o Tupi, por tudo o que nós lutamos. Entramos desacreditados e conquistamos o respeito e a taça", desabafou o lateral-direito Henrique, um dos principais jogadores do elenco.
Para quem é da cidade, o caneco veio com um gostinho especial. "Foi um título muito importante para o Tupi, que estava tão carente de conquistas. Para mim especialmente, porque sou da cidade e porque o clube me abriu as portas mesmo depois de eu ter ficado parado por dez meses, me recuperando de uma cirurgia", relembrou Léo Salino, um dos destaques do time e autor do gol de ontem.
Futuro
Por enquanto, a ordem no clube é só comemorar. Mas o Tupi já sabe quem será seu próximo adversário. O Carijó foi informado pela Federação Mineira de que irá estrear no Campeonato Estadual no dia 25 de janeiro, contra o Social, em Coronel Fabriciano. A formação do elenco e a programação para a competição ainda não foram definidos pela diretoria.
Emoção em campo até os minutos finais
A partida de ontem no Mário Helênio foi bastante truncada no primeiro tempo, com poucas chances de gols. O Tupi não deu um chute sequer contra a meta do arqueiro Flávio durante os 45 minutos iniciais. Mais eficiente, mesmo sem mostrar um grande futebol, o América saiu na frente logo aos 7 minutos. Após cruzamento da direita, o goleiro Alan Faria, que substituía o titular Marcelo Cruz, suspenso, tentou segurar a bola molhada, mas perdeu na dividida para Leandro Ferreira, que, de cabeça, botou para dentro.
Aos 17, o Coelho voltou a assustar com Luciano, que deixou Fernando na saudade, invadiu a área e bateu para boa defesa de Alan Faria. O troco veio aos 19, quando Léo Salino dividiu bola com o goleiro Flávio, mas levou a pior no lance. Aos 22, o volante Daniel cobrou falta da intermediária, mas isolou, sem o menor perigo. A torcida do Tupi, que incentivava o time, ainda levou um susto antes do intervalo. Aos 45, o América chegou a balançar as redes, mas o árbitro Cleison Pereira assinalou impedimento.
No início do segundo tempo, porém, veio a redenção carijó. Ademilson, artilheiro da competição com seis gols, deu uma de garçom e enfiou no meio da zaga para Léo Salino, que invadiu a área e bateu na saída de Flávio, empatando a partida. Foi a senha para a torcida começar a gritar "é campeão!". Aos 18, após bate-rebate na área alvinegra, Rogério, que entrara no segundo tempo, bateu por cima da meta.
Léo Salino voltou a aparecer aos 19. Ele chutou de fora da área, Flávio deu rebote, e Ademilson ainda tentou empurrar para o gol, mas perdeu a disputa com o goleiro do Coelho. Aos 21, Rogério voltou a ameaçar, batendo para defesa de Alan Faria. Quando a torcida gritava "Libertadores, Libertadores", porém, Rogério não errou: aos 26, aproveitou cruzamento da direita e cabeceou no canto. Alan Faria chegou a tocar na bola, mas não impediu os 2 a 1.
Mesmo atrás no placar, por volta dos 38 minutos a torcida começou a gritar "olé!", já que o América precisava fazer ainda outros dois gols para tirar o título do Tupi. Aos 45, foi a vez de a comissão técnica começar a fazer a festa à beira do gramado, certa de que a fatura estava liquidada e que o destino da taça seria mesmo Santa Terezinha.
Vantagem na decisão não diminuiu tensão do público
A vantagem conquistada fora de casa não diminuiu a tensão da torcida carijó. O que se via nas arquibancadas era uma mistura de ansiedade, otimismo e preocupação. Nem o tempo ruim conseguiu tirar a empolgação da galera que, durante todo o jogo, empurrou o time rumo ao título.
E como paixão de torcedor não tem limite, teve gente que veio de longe para dar uma força ao Tupi. É o caso do advogado juizforano Rogério Talha, 52, que, há 7 anos, mora em Belém (PA). Apesar da distância, ele conta que não deixa de seguir os passos do time. "Sempre acompanho os jogos do Tupi pelo rádio e pela internet. Dessa vez, viajei mais de 8 horas, exclusivamente, para ver a final", ressaltou Rogério, filho do ex-jogador do Carijó nos anos 50, Afrânio.
O goleiro Marcelo Cruz, suspenso por ter recebido o terceiro cartão amarelo no primeiro jogo da final, foi obrigado, pela primeira vez em dois anos e meio, a encarnar o papel de torcedor. Ao lado da mulher Ana Laura e dos filhos Luísa e Gabriel, ele assistiu ao jogo em uma das cabines do estádio. "Meu coração está a 130, 140 batimentos. Ontem, na hora de dormir, parecia que o tempo não passava. Para o atleta, não tem coisa pior do que ficar de fora", lamentou. Vestindo a camisa 9 do time, o goleiro foi aclamado pela torcida.
Quem também teve dificuldade de controlar a ansiedade foi a esposa do atacante Ademilson, Bianca de Cássia, 32. A escalação do jogador era dúvida até a véspera da partida. "Ele falou que iria jogar de qualquer jeito. Estou com o coração na mão. Já não tenho mais unha. Comi tudo", brinca Rita, mostrando as mãos, ao lado do filho Alison, de 4 anos.
A torcida ficou ainda mais apreensiva após o primeiro gol do América-MG, logo os 7 minutos de jogo. No momento do lance, o vigilante Luiz Ricardo, 51, não conseguiu disfarçar a preocupação. "Tomara que a gente não saia decepcionado hoje", sentenciou. Outro que preferiu não comemorar antes do apito final foi o estudante Tiago Nascimento, 11. Apesar da cautela, ele demonstrou confiança. "Com o Tupi, as coisas sempre são difíceis. No final sempre complica. Mas acho que, agora, dá." Supersticioso, ele carregava a bandeira que ganhou quando esteve, pela primeira vez, em um jogo do Carijó. "Eu tinha 9 anos. Meu tio que me levou. Naquele dia, o Tupi ganhou de 2 a 0 do Atlético. De lá para cá, passei a acompanhar todas as partidas."
Sem modéstia, Tiago mostrou que entende do riscado. "Acho que o Lucas deveria entrar no lugar do Léo Salino", comentava, curtindo uma de técnico, antecipando uma substituição que seria feita no segundo tempo.
Ficha técnica
Tupi x América
Estádio Municipal
Tupi: Alan Faria; Henrique, Ricardo, Fernando e Mendes; Robson, Daniel, Caetano e Léo Salino (Lucas - 32' 2ºT); Allan (Marquinhos Alagoano - 41' 2 ºT) e Ademilson (Reginaldo - 30' 2ºT)
América: Flávio; Carlão (Maranhão - intervalo), Preto, Micão e Jean (Faísca - 15' 2ºT); Bruno, Dudu, Fabricio e Leandro Ferreira (Rogério - 15' 2ºT); Luciano e Evandro
Árbitro: Cleison Veloso Pereira
Gols: Leandro Ferreira (7' 1ºT), Léo Salino (6' 2ºT), Rogério (17' 2ºT)
Cartões amarelos: Micão (2' 1ºT), Fernando (15' 1ºT), Jean (29' 1ºT), Henrique (44' 1ºT), Maranhão (13' 2ºT), Ricardo (14' 2ºT) e Alan Faria (41' 2ºT).
Cartão vermelho: Evandro (42' 2ºT)
( Fonte: Jornal Tribuna de Minas)
foto: Arquivo |