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SEÇÃO: Camp. Estaduais
Na grande área do Leão do Bonfin
26/12/2008 - 10:27 hs
 



























Não é todo dia que um ex-jogador se transforma em dirigente. Meses depois de Roberto Dinamite (foto)assumir o comando do Vasco, outro antigo ídolo, Luiz Carlos Ferreira, o Luizinho, acaba de ser eleito, aos 50 anos, para conduzir os destinos do Villa Nova, o centenário clube de Nova Lima em que despontou, nos anos 1970, como um dos mais clássicos zagueiros da história do futebol do país, com passagens marcantes por Atlético, Sporting, Cruzeiro e Seleção Brasileira. Agora como dirigente, sonha em repetir no Leão o mesmo sucesso dos tempos em que dominava a grande área.

Emoção
Confesso que tremi três vezes na carreira. A primeira, ao estrear na Seleção Brasileira, quando começou a tocar o Hino Nacional, que eu não sabia todo. A segunda foi em 1995, pelo Módulo II do Campeonato Mineiro pelo Villa Nova, aqui em Nova Lima, contra o Araxá. Jogávamos pelo empate para subir de volta à elite e já estávamos vencendo por 1 a 0, quando houve um pênalti. A torcida começou a gritar meu nome. Arturzinho carregou a bola da área até o meio do campo e me entregou. Eu tinha costume de bater pênalti no Atlético. Quando não era Nelinho ou Éder, eu batia. Mas, naquela hora, tremi. Ainda bem que fiz o gol. Vencemos por 5 a 1 e fomos campeões. A terceira vez foi sexta-feira, na eleição para presidente. Tremi e depois me emocionei, chorei>

Sonho
Como presidente, quero ter a mesma sorte que tive como jogador. Se conseguir um terço, já estará bom. Tenho meus projetos e acredito que a saída para o Villa Nova é priorizar a base, para poder preparar o futuro. Vou dar prioridade também à construção de um centro de treinamento. É fundamental. Quero tornar esses dois sonhos realidade. Quero também um novo estádio para o clube, ou melhor, para Nova Lima. Não tenho medo, mas receio me desgastar dentro da minha cidade. Quero trabalhar em prol do clube, se preciso 24 horas por dia. Não vou me cansar de trabalhar. Fui vice-presidente do João Bosco Pessoa, meu cunhado. Pude aprender algumas coisas e, além do mais, ele estará comigo. Sei das dificuldades, mas a vontade de vencer é muito grande.

Início
Vim para o Villa aos 12 anos, trazido pelo treinador do dente-de-leite, Sô Baiano – acho que já morreu. Era atacante. Na Minicopa, patrocinada pela TV Itacolomi, num jogo em que nosso zagueiro foi expulso e o técnico já tinha feito as duas substituições, eu disse que iria jogar lá atrás. Fui escolhido o melhor em campo. Ganhei uma bicicleta de prêmio. Ali comecei a carreira como quarto-zagueiro.

Concentração
Lembro-me de que a concentração do Villa era no dormitório debaixo da arquibancada. Gostava muito daquilo. Era um lugar muito confortável. Se tivesse de fazer tudo de novo, faria. Era menino e sonhava em ser jogador, mas confesso que não imaginava que chegaria tão longe. Acredito que tudo depende de se ter um dom dado por Deus, aliado à sorte. Tive os dois. Além disso, tive a ajuda de muita gente, disso não me esqueço.

Atlético
Em 1976, fui escalado para um jogo contra o Atlético, no Mineirão. Foi a primeira vez que joguei no estádio. Perdemos por 5 a 1, mas ganhei o prêmio de melhor em campo e, no dia seguinte, fui vendido. Não dei muita importância à troca. Era muito novo, estava com 20 anos. Não pensei nessa história de que estava saindo do Villa para ir para um time grande, o Atlético. Para mim, os dois eram iguais. Acho até que foi um ato de irresponsabilidade de minha parte não ver a troca como um grande salto. Sabia que tinha de saber aproveitar. Cheguei a um timaço, que tinha João Leite, Cerezo, Reinaldo, Marcelo, Paulo Isidoro... Só me encaixei no lugar do Vantuir

Idolo
Meu grande ídolo foi sempre o Rei. Muita gente estranha quando digo isso, pois fui zagueiro. Acham que tinha de ter um jogador da posição como herói, mas não. Meu espelho sempre foi e será Pelé.

Seleção
A convocação veio depois de um jogo do Atlético, não me recordo contra quem. Quando me falaram, na descida para o vestiário, pensei que era para a de novos, pois foram feitas duas convocações, ambas pelo Telê, e eu ainda tinha idade para a base. Só quando estava saindo do estádio, no hall principal, soube que era para a equipe principal. Quase fiz pipi nas calças. Era um sonho, iria jogar com Cerezo, Júnior, Falcão, Zico... Imagine só, o Zico. Acho que não dormi naquela noite.

Elogios
Não sabia de um comentário que o Gérson fez sobre um jogo da Seleção, de que ‘eu irritava porque não errava’. Fiquei imaginando o que seria isso, mas confesso que fiquei lisonjeado. Roberto Drummond também me elogiava muito. Ele fazia, algumas vezes, uma comparação com a história da camisa preta e branca pendurada no varal e a tempestade. Minha mulher guardou todas as crônicas dele que saíram no Estado de Minas.

Decepção
A maior decepção da minha vida foi na Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Foi uma frustração muito grande não termos sido campeões. Hoje, acho que nos faltou humildade. Tínhamos o placar nas mãos contra a Itália, aliás tivemos duas vezes, pois o empate nos classificava às semifinais. Mas queríamos era ganhar. Pelos nossos jogadores, pelo técnico Telê, tínhamos de jogar com o resultado. Tivemos uma estréia difícil, contra a União Soviética, quando saímos perdendo e viramos. O problema é a tensão da estréia. Sofremos o gol, mas não nos importamos, pois sabíamos que viraríamos. A confiança era total no título. Tínhamos a certeza de que seriamos campeões.

Italia
Vimos a Itália nos primeiros jogos e comentávamos que aquele não era um time, era uma mangaba. Eles não conseguiam jogar. Chegamos para o jogo contra eles embalados, pois tínhamos vencido bem a Argentina, com Maradona e tudo. Achávamos que iríamos atropelar. Mas nos enganamos. Erramos a nossa avaliação. Faltou humildade. Não se ganha nada de véspera.

Portugal
Em 1988, fui vendido ao Sporting. Em Portugal, aprendi o que é ser profissional. Eles dão todas as condições, mas cobram, e muito. Aqui no Brasil, existe o paternalismo. Os dirigentes fazem tudo por você. Lá, você tem de se virar e também dar o retorno que esperam. Uma coisa que quase ninguém sabe é que, depois de três meses, quase voltei. Cheguei a pedir ao Atlético para desfazer o negócio. Eu tinha ido sem a família e morava em um hotel. Foi quando decidiram me dar um apartamento e minha mulher, Márcia, e os meninos foram para lá. Aí tudo ficou bem. Joguei quatro temporadas. Disputei a Copa da Uefa. Fui campeão apenas uma vez, da Taça de Portugal. Quando penso nesse tempo, fico triste, pois fui para lá mais velho. Se tivesse ido antes, acho que nunca mais voltaria ao Brasil. Tinha cinco anos de contrato, mas minha mãe havia morrido e minha sogra estava doente, com problemas cardíacos. Minha mulher não agüentava mais ficar lá. Conversei com o presidente do clube e falei a verdade. Ele me pediu apenas que fizesse uma coletiva e contasse por que estava indo embora. Depois, me chamou à sala dele e me pagou o ano de contrato que faltava. Não queria aceitar, mas ele quase me obrigou.

Cruzeiro
Quando vim para o Cruzeiro, tive de contratar segurança, pois a pressão da torcida atleticana foi muito grande. Os torcedores não aceitavam. Para eles, foi uma grande traição. Não aceitavam de jeito nenhum. Mas foi um ótimo período. Lembro-me de um jogo contra o Boca, na Bombonera, que vencemos por 2 a 1, pela Libertadores de 1994. Lembro que fiz uma jogada com Cerezo. Saí jogando, pisei na bola e avancei. Cerezo me lançou por cima e quase fiz o gol. Aliás, não sei quantos gols fiz na carreira. Sei que foram 21 no Atlético, porque o clube me mandou a informação.

Volta para Casa
Em 1995, já tinha parado quando o pessoal do Villa foi lá em casa me pedindo para voltar e ajudar o time a voltar à Primeira Divisão do Mineiro. Disse que topava, mas precisariam contratar pelo menos mais dois reforços, pois, sozinho, com um grupo de meninos, não conseguiríamos. Pediram e indiquei Arturzinho e Róbson, atacantes. Deu certo, fomos campeões, mesclando experiência e juventude.

Depressão
Quando a gente pára, passa uns três meses bem, mas, depois, vem a depressão. Ninguém está preparado para se aposentar. Parece que está sempre faltando alguma coisa. Quem diz que está pronto para parar está mentindo. Ninguém está. É muito duro fazer o que se gosta e, de repente, não poder mais. Não é fácil se adaptar à nova realidade. A rotina era acordar cedo, ir para o treino, almoçar, treinar de novo e voltar para casa. Havia as concentrações e os jogos. Mas, de repente, não tem mais nada disso. Acho injusta a vida do jogador acabar tão cedo, justamente na melhor hora, quando ele é experiente.




 
Fonte: www.superesportes.com.br
 
 

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