A grande diferença entre o torcedor comum e o comentarista, analista e principalmente o profissional da imprensa esportiva é que enquanto o primeiro é movido pela paixão os demais precisam trabalhar com a razão. A visão do primeiro sobre uma determinada situação muitas vezes é, ou pelo menos deveria ser, muito diferente daquela que o segundo deve ter. Para o torcedor é muito fácil mudar de opinião e de humor durante uma partida de futebol, por exemplo, enquanto o analista, ou profissional seja qual for a sua função, precisa ter coerência nas suas manifestações. O coração apaixonado que vaia quando o seu time não começa bem uma partida é o mesmo que explode de alegria quando ele sai de campo vitorioso. A análise coerente baseada, em fatos concretos e circunstâncias reais, leva a credibilidade e ao respeito e esta soma é capaz de influenciar e se tornar formadora de opinião. Dito isto, explico porque não gosto muito de discutir futebol com os torcedores. Não é por não ter por eles, e suas opiniões, o maior respeito e consideração. Eles podem e até devem ser movidos pela paixão, nós profissionais temos que observar e emitir opinião com a razão. Temos que ter responsabilidade em nossas opiniões e coerência para mante-las garantindo nossa credibilidade que é o nosso maior patrimônio. O torcedor é a razão de ser da maioria das modalidades esportivas. É ele que lota estádios, ginásios, acalora discussões, cria ídolos, transforma pessoas simples e humildes em celebridades milionárias, mas por ser movido por paixão é vulnerável. O grito de entusiasmo e alegria pode se transformar em xingamento e revolta em poucos minutos. É assim que penso e pauto a minha vida profissional há várias décadas.
Depois deste preâmbulo vamos ao assunto da coluna de hoje: Campeonato Mineiro de 2009. Qualquer prognóstico que seja feito agora, a pouco mais de um mês do inicio da competição, pode se confirmar ou não, exceto que a dupla Atlético e Cruzeiro é novamente como acontece há muitos e muitos anos, favorita para ficar com o título. A distância que separa os dois grandes clubes do futebol brasileiro dos seus irmãozinhos do território mineiro é gigantesca. O melhor exemplo é a cota que cada um deles recebe da televisão que é aproximadamente 30 vezes maior que a da maioria dos clubes interioranos. A disputa fica totalmente desproporcional, isto sem levar em consideração as estruturas que a dupla forte da Capital conseguiu montar para as suas equipes e que são incomparáveis com a
turma do interior. A competição de 2009 será como as anteriores: Cruzeiro e Atlético acertando suas equipes para as competições mais importantes do ano e brigando pelo título e as demais preocupadas em não serem rebaixadas. Mesmo sendo verdade que algumas interioranas já possuem vagas garantidas em algumas divisões do Campeonato Brasileiro, também o é que isto não quer dizer que elas estão livres de cair para o "inferno" que é a Segunda Divisão. O Ipatinga que o diga. Depois de se despedir da elite do futebol brasileiro no “Templo Sagrado do Futebol" que é o Maracanã, poderá estrear na Segundona no modesto estádio do Funorte, de Montes Claros, ou do América, de Teófilo Otoni.
Muitos torcedores me perguntam: quais são os favoritos para o rebaixamento este ano? É incrível, mas a maioria dos torcedores dos pequenos clubes torce mesmo é para suas equipes não serem rebaixadas, quando o lógico era sonhar com algo melhor como um título, por exemplo. É difícil de fazer um prognóstico e dizer quem está melhor ou pior. Até a poucos dias aqui mesmo na cidade muitos eram capazes de apostar que o colorado era candidato fortíssimo a voltar ao "inferno". Nas últimas horas a controvérsia ganha força. Isto é bom. É muito bom. Independentemente de quem está a sua frente, quem manda dentro e fora do campo, à fanática torcida do Uberaba Sport Club não tem mais opção: tem que torcer e acreditar que a atual parceria vai dar certo. O campeonato é curto, os primeiros jogos são difíceis e não haverá tempo para que possíveis mudanças possam recuperar aquilo que por ventura for perdido. A nave partiu. A sorte está lançada. Dizer que o colorado é melhor ou pior que os outros clubes do interior é pura especulação e adivinhação. Ninguém tem dados concretos para se basear, positiva ou negativamente.
A exemplo do que aconteceu no campeonato de 2008 o time que vai disputar a competição de 2009 é formado, na sua maioria, por jogadores desconhecidos. Aliás, o mesmo pode se dizer da comissão técnica e dos dirigentes, embora em todos os casos existam as poucas e honrosas exceções. A fase das dúvidas, discussão apaixonada sobre a parceria feita pelo clube com empresários, tem que ser coisa do passado. Todos: jogadores, dirigentes, comissão técnica, torcedores e imprensa precisam, a partir de agora, estarem focados nos adversários do Campeonato Mineiro. A seqüência de jogos do colorado é muito difícil: Ituiutaba, Guarani, Uberlândia e Atlético são os quatro primeiros jogos que vão mostrar como será o ano em termos de adrelanina. Vamos ter emoções fortes positivamente ou negativamente? Só tempo será capaz de mostrar. Torço desesperadamente para que o otimismo do Sr. Michael Robin prevaleça sobre o pessimismo que inicialmente tomou conta de muita gente, inclusive deste jornalista-narrador. Um dia jurei que: Segundona nunca mais. Salve-me Sr. Robin, por favor. Ainda quero percorrer estas estradas de Minas com o colorado por mais alguns anos.
Quando o campeonato deste ano começou ninguém seria capaz de dizer que o Ipatinga seria rebaixado. Muito pelo contrário, se havia um time, na opinião da maioria, capaz de ameaçar a hegemonia da dupla Cruzeiro e Atlético seria o time do Vale do Aço, que vinha de boas conquistas inclusive a honra de ser uma das 20 melhores equipes do Brasil. Foi um fracasso, que continuou no Brasileirão e o colocou em duas segundas divisões em um só ano. Em 2009 pode se dizer que o Tupi, de Juiz de Fora, começa com um pouco de credibilidade. Disputou a Série C do Brasileiro e foi o campeão da Taça Minas Gerais em 2008. O mesmo pode se até dizer do América, que está voltando do "inferno" juntamente com o Uberlândia. Os demais me parecem no mesmo nível. Até o Uberaba que ontem parecia a beira do abismo agora já começa dar ares que poderá surpreender. Positivamente é claro. Uma coisa é certa após a realização de 11 rodadas dois participantes estarão mais pertos de suas catacumbas, dois terão tomado chá de palha e os demais sairão satisfeitos do Mineiro 2009. Tomara que o "glorioso" esteja entre estes últimos.